Em “O Rosto de Shakespeare”, Marjorie Garber, ao relatar sobre as investigações de Susan Campbell, nos informa que “(...) uma tal de Katherine Sampson que morreu em 1682 assim distribui suas quatro panelas de aquecer, que eram usadas com brasas para aquecer os lençóis...no inverno: a melhor delas fica para a irmã mais velha, a segunda melhor, para a segunda irmã, e assim vai até a quarta. Quatro panelas para quatro irmãs.”
A temática acima deu origem à dramaturgia “Alba Astraças e as nossas quinzenas”, de autoria da sorocabana Débora Brenga, que narra a saga das irmãs Astraças em luta pelo poder matriarcal, a partir da representação arquetípica da panela.
Reconhecer “a panela” como um desses símbolos, que aquece, alimenta e transforma tal qual o útero, é compreender sua importância cultural no rito do preparo e da comunhão entre as pessoas. Importância essa que, há mais de três séculos, levou uma mulher a deixar suas panelas às irmãs, num testamento registrado em cartório.
Ao articular as metáforas do feminino que a história contempla, através de símbolos que carregam ao mesmo tempo a força e fragilidade, vida e morte, luz e sombra e utilizando-me das linguagens de teatro e vídeo, tento transitar entre o que é poético e imagético, transpondo imagens em movimento narrativo, pois, “Saber contar quer dizer, também, envelhecer e, contar é sempre relatar um envelhecimento.”
XAVIER FILHO
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